A DIVISÃO NA ESCOLA OU A ESCOLA DA DIVISÃO*

ENEIDA AMORIM DOS ANJOS**

A idéia de fazer um trabalho que abordasse a questão do gênero na escola surgiu a partir da observação de uma aula de Educação Física em uma escola particular de Goiânia. Pude perceber então que há restrição dos meninos em relação a participação das meninas em um jogo que “pertence a eles”, o futebol, sem que o professor atuasse de forma construtiva a turma.

A Educação Física, ao que parece, tem trabalhado para encontrar justificativas de sua prática e não tem tentado entendê-la enquanto parte integrante de um todo, que é a sociedade. A discriminação da mulher na sociedade é um fato conhecido por todos e, como foi dito acima, ocorre também na escola.
O objetivo deste trabalho monográfico foi tentar entender como isso se dá na prática das aulas de Educação Física. Responder a essa questão só foi possível após a realização de pesquisa de campo em dois colégios particulares de Goiânia, que foram escolhidos em função de uma particularidade histórica: ambos eram colégios para um dos sexos e a partir de determinada data tornaram-se mistos. Através de entrevistas gravadas e da observação das aulas, neste último caso atentando para os  aspectos conteúdo e metodologia, foi possível coletar uma série de dados que aponta para uma direção e permite que se possam tirar algumas conclusões a respeito deste assunto.

A separação das turmas por sexo nas aulas de Educação Física fica clara nestas duas escolas, sendo que em uma delas de forma bem explícita, no discurso e na prática, e na outra apenas na prática das aulas. A discriminação está presente ao serem passados conteúdos diferentes para os meninos e para as meninas. A metodologia usada nas aulas também apresenta diferenças para os meninos e para as meninas. É importante ressaltar que os professores, de maneira geral, não se mostram críticos diante dessa situação; ao contrário justificam a separação das turmas com argumentos relacionadas ao aspecto biológico, afirmando que a menina é mais fraca e tem menos habilidade que os meninos, esquecendo-se de todo o processo de socialização que faz parte da aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.

Nas turmas separadas por sexo, os possíveis conflitos decorrentes dessas diferenças normalmente não se evidenciam, impossibilitando os alunos de estarem discutindo sobre o assunto, o que os levaria a elaborar suas próprias idéias de maneira mais consciente. O que acaba acontecendo também é um reforço dos estereótipos sociais, os meninos continuam, entre outras coisas, sendo os ‘maiorais’ nos desportos, em detrimento das meninas. Dois pontos ainda foram conclusivos na pesquisa: 1) a importância da formação do professor de Educação Física, visto que é ela que fornece elementos para a atuação profissional e, no caso dos entrevistados, em seus cursos havia diferenças na grade curricular para a mulher e para o homem: 2) o conteúdo trabalhado nas escolas está restrito ao desporto, deixando de lado outros elementos da cultura corporal como a dança, a ginástica etc. Isto mais uma vez privilegia o sexo masculino já que estes estão socialmente predispostos para os esportes. As aulas de Educação Física separadas por sexo precisam ser repensadas, tanto por professores como pelos alunos, para que estes possam entender os significados ocultos nestas práticas.

NOTAS

*      Trabalho monográfico realizado como exigência para conclusão do curso de graduação em Educação Física , pela Universidade Federal de Goiás, sob orientação da Professora Mara Medeiros.

**    Professora de Educação Física, graduada pela Universidade Federal de Goiás.

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