POLÍTICAS PÚBLICAS E ATIVIDADES FÍSICAS PARA A POPULAÇÃO DA GRANDE GOIÂNIA: UM OLHAR CRÍTICO*

EDENVALDO PEREIRA MENÊS**

Este estudo monográfico investigou os parâmetros utilizados pelo poder estatal para a constituição e orientação em suas políticas públicas na área de atividades físicas e saúde para a população da Grande Goiânia. O estudo analisou os pressupostos científicos e metodológicos que orientam, direta e indiretamente, a intervenção das ações do Estado neste setor. A metodologia de pesquisa utilizou-se dos dados da realidade cotidiana inscrita na prática do programa “Caminhando com saúde” e a atuação da ideologia, como fator determinante na sustentação dos objetivos que estão intrínsecos nos projetos públicos desenvolvidos pelo Estado. Foi realizada também uma análise nos referenciais teóricos e críticos quanto ao papel da ideologia na constituição das políticas públicas e na função do Estado no âmbito das práticas sociais. Articulando-se com esta problemática, foram abordados a questão do mito da atividade física enquanto precursora de saúde e o papel da mídia como canal reforçador de necessidades e expectativas na busca individual pela atividade física e a saúde. Foram utilizados ainda o referencial denominado de “corpolatria”, que, entre outras coisas, promete aos seus “discípulos” a perspectiva de uma nova “religião” – o prazer, como fim em si mesmo, através das práticas corporais – dando a esta prática um caráter altamente egocêntrico e consumista, levando as pessoas a um profundo processo de reforço na individualização e no distanciamento do seu semelhante no interior das sociedades. Após a apropriação destes referenciais, dos conteúdos do projeto “Caminhando com saúde” da Prefeitura de Goiânia/gestão 1998-2000 e da coleta de dados junto aos professores que materializam esse discurso, foi possível perceber que as ações do poder público estão em consonância com o projeto ideológico da sociedade capitalista: 1) reforça a exclusão, pois o atendimento oferecido abrange apenas uma pequena parcela economicamente elitizada da sociedade; 2) a concepção de intervenção do projeto “Caminhando com saúde" se restringia ao campo da saúde enquanto os usuários apontam para um outro campo de interesses, mais aproximado com os elementos da “corpolatria”, gerando com isso uma distorção entre os objetivos do Estado e os interesses dos usuários; 3) é possível perceber a atuação dos professores envolvidos neste projeto, o quanto estão imersos ideologicamente nesta prática, reproduzindo as regras do sistema capitalista, reforçando o mito da saúde e da atividade física e da corpolatria. Como síntese deste estudo, ressaltamos que este projeto é de extrema relevância no cenário social e se destaca por ser uma ação pioneira do poder público nesta área de atividade física, lazer e saúde. Todavia, merece um melhor redimensionamento quanto aos seus objetivos, com metodologia e execução práticas, direcionando-o mais especificamente para o atendimento junto à maioria da população e democratizando o seu acesso para aqueles que realmente estão à margem destes benefícios. Ressaltamos que a intervenção do professor de Educação Física tem a sua relevância no processo educativo e no trato com o conhecimento junto à população, e, portanto, é necessário que as instituições de formação acadêmica implementem, no currículo de graduação, conteúdos sócio-culturais e científicos que ampliem a visão crítica sobre a estrutura social, para que possam atuar com uma maior competência técnica e consciência política no interior das políticas públicas.

NOTAS

* Monografia de conclusão no Curso de Educação Física da Universidade Federal de Goiás/1998.

** Professor Graduado pela Faculdade de Educação Física da UFG e membro do CBCE/Go Pensar a Prática 2: 209-210, Jun./Jun. 1998/1999.

TOPO