EDITORIAL

Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás, como atividade constante de seu calendário acadêmico e estratégia de organização coletiva do trabalho pedagógico, conta com a Semana de Planejamento, um tempo e espaço de intensa discussão interna sobre os problemas e perspectivas colocados para realização do projeto político-pedagógico, abrangendo as dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão, bem como de sua própria gestão física e financeira. E foi deste ambiente de debates que identificamos a necessidade de maior aproximação dos estudos culturais como mais um recurso de compreensão e explicação das transformações que acompanham a sociedade, com especial atenção para o impacto destas mudanças sobre o universo das práticas corporais. O objetivo, em verdade, era também, e especial-mente, o de reunir elementos de análise acerca da subjetividade da juventude que tem ingressado no curso de formação inicial em Educação Física, com a preocupação de melhor perceber a relação estabelecida entre os saberes curriculares e os saberes cotidianos forjados entre os estudantes em tempos de reificação da cultura.

Em sintonia com esta discussão, e procurando construir nexos mais abrangentes deste mesmo debate com a especificidade e conhecimento de que trata a Educação Física, a editoria da Pensar a Prática propôs como problemática de investigação do segundo número de seu oitavo volume o tema Educação Física, Corpo e Cultura. Esperávamos, através da Pensar a Prática, constituir um espaço de difusão da produção do conhecimento acerca das relações que se estabelecem entre Cultura e Educação Física, mediadas pela corporalidade humana. Além disso, pretendíamos estimular reflexões voltadas à temática do Corpo, não só como objeto de estudo da Educação Física, mas, também, como novo foco de interesses perpassado por diversas abordagens disciplinares, considerando a variedade de enfoques e referenciais teóricos capazes de interpretá-lo. O que se esperava era o aprofundamento deste debate, envolvendo questões concernentes ao corpo e à cultura na sua articulação com a escola, o lazer, a saúde, a mídia, o esporte, a identidade cultural, a história, os movimentos sociais, as relações de gênero, entre tantas outras possibilidades.

Não para surpresa desta editoria, pois sabíamos que o interesse por esta temática vinha se revelando cada vez maior entre os pesquisadores atuantes no campo, diante da chamada de trabalhos, recebemos um significativo número de contribuições. Foram vinte e quatro ao todo, dos quais nove textos foram selecionados. Os trabalhos tratam da problemática da Educação Física, Corpo e Cultura na sua relação com as chamadas novas tecnologias do corpo promotoras de uma espécie de neo-higienismo; com a educação do corpo em ambientes educacionais; com a educação do corpo junto a populações indígenas; com a racionalidade técnica que aparece como visão hegemônica e base desta educação do corpo; com as percepções sobre o corpo e a subjetividade de estudantes de Educação Física; com as práticas corporais tradicionais; bem como com a prática pedagógica de professores universitários no que se refere ao trato com o corpo de seus alunos. Assim, acreditamos que os propósitos projetados para este número da Pensar a Prática foram plenamente alcançados.

E para coroar este esforço, a fim de instituir maior interlocução ainda da Pensar a Prática com o campo da Educação Física, extrapolando os limites espaciais da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás e geográficos de nosso Estado e Região, optamos por realizar o lançamento deste segundo número do oitavo volume por ocasião do XIV Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e I Congresso Internacional de Ciências do Esporte, Ciência para a vida, realizado pelo Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, entidade científica representativa da área da Educação Física, na Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Trata-se ainda de ato que se coloca na esteira da importância que os estudos sobre Educação Física, Corpo e Cultura passam a receber por parte do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, com a criação no interior de sua estrutura organizativa de um Grupo de Trabalho Temático específico congregando pesquisadores que têm se dedicado ao tema.

Enfim, esta é mais uma iniciativa que procura ampliar nosso campo de diálogo com estudantes, professores e pesquisadores, sempre orientados para o alargamento das possibilidades de interpretação e explicação da Educação Física, estimulando a produção de novos conhecimentos comprometidos com a qualidade social de ensino como prática social e disciplina pedagógica.

Os Editores