“A viagem de volta”:o reconhecimento de indígenas no sul do Brasil como um evento crítico
DOI:
https://doi.org/10.5216/sec.v14i2.17605Palavras-chave:
evento crítico, construção narrativa, reconhecimento étnico, populações indígenas, tempo.Resumo
O presente artigo enfoca a problemática do reconhecimento étnico de indígenas por parte do Estado, sugerindo que este pode ser pensado como um evento crítico, no sentido de que transforma percepções, ações e relações entre diferentes agentes envolvidos nos processos de territorialização, além de possibilitar a construção de memórias que tecerão discursos e narrativas específicos. A partir de uma pesquisa etnográfica
realizada junto à comunidade Charrua da Aldeia Polidoro de Porto Alegre (Brasil), abordo inicialmente a historiografia dos índios Charrua do Uruguai que ressalta fundamentalmente
a extinção da etnia, contrapondo a isso as suas narrativas que assumem a ótica da sobrevivência, condição de possibilidade para seu reconhecimento no Brasil atual. Na sequência apresento situações e discursos que considero reveladores da
conflituosa relação deles com alguns agentes públicos que se veem confrontados com a agenda e a agência políticas desse “novo” povo indígena. Por fim, sugiro que, em parte, esses conflitos estão relacionados a diferentes formas de experienciar o tempo.
Para os indígenas, por um lado, a construção narrativa que lhes dá possibilidade de se reconhecerem e serem reconhecidos como tais implica a corporificação da interprenetração dos tempos passado e presente e, nesse sentido, sua espera pela promoção de seus direitos constitucionais é contabilizada desde tempos muito remotos. Por outro lado, para os agentes públicos, o reconhecimento étnico oficial é um ponto específico no presente, a partir do qual estes iniciam um processo lento e gradual de reconhecimento da condição de indígenas, dentro do “tempo da burocracia” no qual estão imersos cotidianamente.
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