O
mercado farmacêutico global movimentou em 2005 $ 602 bilhões de dólares,
apresentando uma taxa de crescimento de 7% ao ano. A América do Norte é
responsável por 47,0% deste montante, que corresponde a $ 265,7 bilhões de
dólares e a América Latina é o mercado que tem apresentado a maior taxa de crescimento,
ca. 18,6%. Tamanha movimentação financeira coloca o mercado farmacêutico entre
os quatro maiores mercados econômicos globais.
Segundo
alguns autores, os investimentos necessários à pesquisa e desenvolvimento de um
novo fármaco oscilam entre 800 milhões a 1 bilhão de dólares. Ao aceitarmos tais
valores absolutos sem questionamento, podemos estar sendo coniventes com algumas
distorções, i.e. pré-requisito
financeiro elevado, para quem almeja trabalhar com pesquisa e desenvolvimento
de fármacos e custo elevado dos fármacos recém lançados, justificados pela
necessidade de recuperar os investimentos durante a etapa pesquisa e
desenvolvimento. Isto se cristaliza quando analisamos os dez fármacos, que
representam 32,9% do mercado global, que mais faturam no mercado farmacêutico
global em 2005, onde a atrovastatina se destaca com o faturamento de $ 12,9
bilhões de dólares.
A
pesquisa e desenvolvimento de fármacos no Brasil hoje se tornam uma questão de
soberania nacional. Cerca de 1,8% do conhecimento novo gerado no mundo é
desenvolvido no Brasil, o que ratifica a qualidade do perfil científico
brasileiro. Mas, por outro lado, o Brasil não apresenta a cultura de proteger o
conhecimento novo que gera sob forma de patentes, quadro este que precisa ser
mudado.
A
pesquisa no Brasil se concentra principalmente nas universidades (65%) e em
menor grau nas indústrias (27%), logo articular estratégias para aumentar a
interface entre ambas as partes para suprir as demandas regionais, é algo de
extrema relevância. O “know how” acumulado em matéria de fármacos e
medicamentos na Faculdade de Farmácia - UFG vem se consolidando nos últimos anos,
através de criação e reforma de laboratórios de pesquisa, além da implantação
do curso de Mestrado
Historicamente,
os fármacos foram obtidos a partir de várias fontes, i.e. produtos naturais, “screening”, descoberta ao acaso, estudo de
metabolismo, química combinatória, ensaios automatizados de alta demanda e
planejamento a partir da abordagem fisiopatológica. A química combinatória e os
ensaios automatizados de alta demanda são novas abordagens tecnológicas bastante
onerosas e não levaram à identificação de novos fármacos, proporcionalmente ao
aporte de investimentos. Já a abordagem fisiopatológica tem sido mais efetiva
na identificação de novos fármacos, uma vez que através do planejamento
criterioso há uma melhor relação custo benefício, em relação aos novos fármacos
identificados e os recursos investidos.
A
abordagem fisiopatológica parte da compreensão de uma disfunção fisiológica,
onde se objetiva a modulação do processo para o restabelecimento do quadro
normal. Uma vez identificado um alvo terapêutico a ser modulo, o planejamento
pode se dar de duas formas, ou seja, a partir da estrutura da proteína, seja
receptor ou enzima, quando conhecido, ou a partir da estrutura de protótipos,
quando a estrutura da proteína é desconhecida. Quando dispomos da estrutura da
proteína, podemos empregar técnica de modelagem molecular, i.e. atracamento, dinâmica molecular e modelagem por homologia,
onde avaliamos o número e tipos de interações entre o complexo formado entre micro
molécula (fármaco) e biomacro molécula (proteína), responsáveis pela atividade
identificada. Quando não dispomos da estrutura da proteína, podemos efetuar
modificações moleculares, i.e.
simplificações moleculares, bioisosterismos, hibridação molecular e latenciação,
sobre a estrutura do protótipo. Técnicas de modelagem molecular, i.e. CoMFA, CoMSIA, QSAR 4D, também podem
ser empregadas quando a estrutura da proteína não é conhecida. Neste caso, são
necessários bancos de ca. 30 moléculas ativas, com atividades intermediárias e
inativas, que tenham sido submetidas ao mesmo protocolo farmacológico. Com este
banco de moléculas é possível a construção de modelos miméticos de receptores, úteis
para predizer a atividade de ligantes. Vale destacar que os estudos
computacionais, síntese orgânica medicinal e ensaios farmacológicos se encontram
interconectados e as novas informações geradas podem retro alimentar o modelo,
conduzindo a otimização de um protótipo.
Através
do exposto podemos concluir que a Química Farmacêutica Medicinal é uma ciência
interdisciplinar, que tem como objetivo principal o desenvolvimento de novos
fármacos. Este perfil interdisciplinar se faz presente no quadro de docentes da
Faculdade de Farmácia – UFG, que aliado à infra-estrutura nos permite abordar
um novo fármaco em toda sua extensão, ou seja, desde a química à clínica. Uma
vez que fármacos são importantes produtos tecnológicos para o Brasil, vale
refletir sobre as palavras de Oswaldo Cruz “Meditai se só as nações fortes
podem fazer ciência ou se é a ciência que as torna fortes”.